Pages

9 de agosto de 2007

Carta

Olá.
Recebi o teu mail. Achei interessante.
Não nos vemos à 9 anos e continuas a falar comigo como se vivesses ao pé de mim e nos vissemos de semana a semana para ir tomar um café. Tenho de dar a mão à palmatória.
Tens uma puta de uma lata.
Fico com a sensação de que me tomas por um filho que sente desesperadamente a falta do pai. Não o senti quando era pequeno e não é agora que tal vai acontecer. Até por uma razão mais básica que qualquer outra: Pai não é nada mais do que um estatuto que se faz por merecer. E por azar dos azares, ou melhor dizendo, por vontade própria, optaste por não merecer esse estatuto. Claro que podes barafustar e dizer que não te ligaste mais porque a minha mãe não o permitiu, que a distância é muito grande etc. A tudo isso, respondo: Merda. Não existem razões válidas que me possas dar para nunca teres olhado para mim como um filho, no sentido lato da palavra.Eu sou o rapaz que mora lá para Portugal e que tenho uma obrigaçãozinha de desejar parabéns todos os anos.
Tenho amigos que moram fora do país e que me ligam no meu dia de anos, que se preocupam, que mantêm o contacto.
Tu... Só me ligas quando te apetece ou quando a minha irmã fala em mim. Aí deves roer-te de ciumes e pensar "Raio do puto, só fala com a irmã". Porque será?
Há um pormenor que tem de ser esclarecido. Eu não tenho nenhuma obrigação de estabelecer seja o que for contigo. Não me venhas com a história "sangue do meu sangue". As pessoas fazem por merecer a simpatia, a companhia, a atenção das outras. Não tenho culpa nenhuma que o vosso casamento não tenha corrido bem. Eu tenho algo a haver com a história? Então, porque é que devo ser eu a pagar a conta no final do dia?
Espera, não é isto que quero dizer. A ver se explico melhor.
Até certo ponto eu preocupava-me e indagava-me porque é que o meu pai não me ligava, não queria saber de mim.
Agora, as coisas são muito diferentes.
Tenho 22 anos. Sou egoísta.
Não me preocupo com coisas desnecessárias e tu és uma delas.
Não confundas a atenção que estás a ter nestas palavras com raiva. A raiva mantem-me vivo. Vivo o suficente para te dizer isto, se bem que preferia dizer-to cara a cara. Tinha mais piada.

Não me tomes com filho.
Não me tomes como alguém que se preocupa.
Não tomes nada por certo
Tudo isso está longe da verdade.

Toma por certo que sou paciente, vingativo e frontal.
É isso que vais ver de mim apenas.

Com muito carinho,

Para o meu "Pai".

0 Ah e tal...: