Ontem tive o prazer de ver um dos filmes candidato aos Oscars de 2009, Frost/Nixon, realizado por Ron Howard ( o mesmo que realizou o Código de Da Vinci )e produzido por Brian Grazer, onde são relatadas as famosas sessões entre Sir David Frost, conhecido comediante e apresentador de talk-shows na Inglaterra e Austrália e Richard Nixon, ex presidente dos USA que renunciou ao cargo depois do caso Watergate.
Não só é bem filmado e com uma intensidade quase semelhante a um " Rocky " ( quase sempre durante as entrevistas, a batalha retórica entre Frost e Nixon assemelha-se a um combate num ringue ), mas o que mais me entusiasmou é que me fez lembrar da sensação que tive quando vi o filme All the president's man, de Alan Pakula, com Robert Redford e Dustin Hoffman a representarem Bob Woodward e Carl Bernstein respectivamente. Para um jornalista, estes filmes reflectem a função que nos é devida. Em ambos os filmes, está presente um factor único: a epítome da função do jornalista. Perante uma história única, a função dos mesmos é relatar os acontecimentos com peso, conta e medida, independentemente das consequências. Curiosamente, ambos os filmes são em torno do caso Watergate. Por um lado, dois jornalistas destapam o véu sobre um dos mais irreverentes casos políticos da história da democracia americana e por outro, um apresentador britânico consegue fazer aquilo que o governo americano não teve coragem de fazer, obrigar Nixon a assumir o erro, terminando a sua carreira política em vergonha.
Para mim, assisto a estes dois filmes com prazer porque me obriga a pensar sobre o modo como o jornalismo é feito em Portugal. O que noutros países, como os EUA, França ou Inglaterra, é considerado como "jornalismo de investigação ", em Portugal não existe. Os estudantes de comunicação social não têm uma ideia concreta do que é jornalismo de investigação. E como é que sei disso? Durante os quatro anos em que tirei o curso, tive apenas uma cadeira que se pode dizer que tenha sido de investigação, apesar de não ser direccionada para tal, bem como, o facto de que existe uma mentalidade errada perante esta vertente. Tendencionalmente, acredita-se que a universidade nos dá uma bagagem cultural enquanto que a parte prática só virá quando trabalhamos num meio de comunicação, aprendendo com os velhos decanos que, com todo o respeito, são de outra época, época essa na qual se desconhecia o que se fazia lá fora e pouco se aprendeu com os outros. Foram auto didáctas.
E se nós avaliarmos a percepção dos meios de comunicação perante os casos mediáticos que ocorrem, é perceptível esta opinião. Casos como o Casa Pia, o Apito Dourado, Maddie, Joana entre outros, são simplesmente relatados com o máximo de factos possíveis, sem nunca vasculhar o que está por baixo do tapete. Concordo quando dizem que é bem bom que os casos tenham vindo a lume, mas discordo quando dizem que tudo foi feito para encontrar o cerne da questão. Não acredito nisso. Se dois jornalistas conseguiram deitar a baixo um presidente dos EUA, então o que nos falta? Acesso às informações, força de vontade, receio das consequências? Sinceramente não sei responder. O que sei é que nos falta levar o jornalismo português a outro nível, a um nível que seja realmente considerado como "contra poder", pois a nossa principal função é relatar os acontecimentos, vasculhando debaixo de cada pedra, falando com todas as pessoas, dando a volta às questões complicadas.
Só dessa forma é que teremos um jornalismo digno de nome. Um jornalimo capaz de mudar a percepção que os políticos têm de nós ( somos veículos de transporte de informação quando lhes convem ), que o público tem de nós ( somos imparciais e sem capacidade de racíocionio ) e mais importante, que nós temos de nós próprios. O jornalismo é convicção e se não a tivermos, então o nosso trabalho deixa de ter valor.
0 Ah e tal...:
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