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3 de maio de 2008

Eu quero viver.


Esta semana vi o Sicko, o documentário do Michael Moore sobre o Serviço de Saúde americano. Apesar da sua posição de retaliação ao Bush, vísivel em todos os seus documentários ( quase que se torna uma obsessão com razão, já que é o pior presidente que os EUA alguma vez tiveram ), a sua capacidade de apresentar histórias é fantástica. Contar os factos de um modo tão simples, duro e cru pode ser agressivo em certas partes, mas consegue alcançar o objectivo de explicar o porquê de milhares de pessoas nos EUA viverem dependendes de HMO's ( como a nossa Médis ou SAMS ), pondo a sua vida em mãos de empresários que têm como objectivo lucrar mais em cada ano, pondo em risco a vida dos cidadões. Casos de cancro, leucemia, tumores que simplesmente não são tratados porque se fossem, quem teria de pagar os encargos eram as empresas e aí, está quieto. Para quê dispender dinheiro quando ele pode ir para mim?

Há um parte no documentário que me despertou um interesse especial. É referido que na altura em que Ronald Reagan ainda era um actor razoavelmente conhecido, os EUA lutavam contra o misto comunista. Plena Guerra Fria.
O Comunismo era o Eixo do Mal logo a discriminação era evidente.


Nessa altura, o que era feito era simples. Anúncios passavam na televisão demonstrando os perigos da "Socialized Medicin", ou seja, medicamentos e tratamentos compartecipados pelo Estado. A retórica era simples: a partir do momento em que o Estado pagava os medicamentos e tratamentos, começava a exigir noutros aspectos da vida social, como o trabalho, a exigir quotas de produção e a controlar a vida de cada pessoa. Mais cedo ou mais tarde, teriam um estado comunista. Portanto, a solução passava por não depender do Estado para viverem. Serem independentes económicamente dele. Claro que mais tarde, chega a altura de Nixon e aí surge o descalabro total. Empresas privadas são criadas com o "principal objectivo" de ajudar as pessoas carenciadas, propondo seguros que são pagos anualmente e cujo rendimento é dividido pelos acionistas e Estado já que as leis são propostas pelos mesmos.

Ainda hoje vivem com esse trauma social. Todos os anos, milhare de pessoas vêm recusados tratamentos porque simplesmente as empresas seguradoras não querem pagar . Isso ia implicar dispender dinheiro do seu bolso para ajudar alguém.
No pólo deste prisma, países como o Canadá, França ou Inglaterra regem-se por uma realidade é incrivelmente diferente. Assumidamente países democratas, nem que seja por terem combatido em duas Guerras Mundiais, aproveitaram aspectos da visão Socialista e incorporaram-na no seu pensamento democrata. Os SNS ( Serviços Nacionais de Saúde ) são controlados pelo Estado, que compartecipa todos os cuidados dados a um cidadão. Medicamentos, tratamentos, análises, uma simples ida ao médico para ver da constipação, tudo isto é pago pelo Governo. Nenhum cidadão paga por isso. Chegam ao ponto de terem médicos que vão a casa das pessoas, como médicos ao domícilio, que funcionam 24h/7, em quase todas as cidades do país. Ninguém paga para ver o que se passa com a sua saúde.
Isto deixa-me a pensar. Portugal é supostamente um país democrático. Nós vivemos durante anos sobre um regime nacionalista que oprimia, repudiava e calava o povo. Hoje ainda vivemos a paga desses anos. Contudo, continuamos a ter os mesmos problemas. Continuamos a ter as mesmas doenças . Continuamos a precisar de ir a um médico quando estamos doentes.

Então porque devemos pagar para alguém ver o que se passa com a nosso corpo ou mente? Taxas moderadoras, pagamento de ambulâncias, pagamento de tratamentos, pagamento de medicamentos? Desde quando é que isto faz sentido? Eu tenho de pagar para tratar da minha saúde? Ou será que devia ser o Governo a ter esse encargo? Faz-me mais sentido que se querem que eu seja um elemento produtivo da sociedade, eu tenha a capacidade física e mental para exercer as minhas funções na sua plenitude, logo, deveria ser o Estado a zelar igualmente por mim. Para garantir que eu continuo a produzir. Hoje assiste-se a uma crise no nosso SNS com pessoas idosas a terem de pagar pequenas fortunas das suas pequenas pensões para term três ou quatro comprimidos. Jovens grávidas que têm os filhos nas ambulâncias porque não chegam a tempo ao hospital. Blocos hospitalares que são encerrados porque não têm rendimento suficiente em comparação às pessoas que lá vão. Médicos e restante staff que se recusam a trabalhar porque não têm meios nem condições minímas para cuidarem dos seus pacientes. As respostas são sempre as mesmas : " A crise económica...A crise que passamos...". Os nossos dirigentes esquecem-se de que países como a Inglaterra estiveram em duas Guerras Mundias a grande custo e perderem tudo o que tinham. Tiveram de recuperar tudo o que desapareceu. E é aqui que surge a minha questão: Se eles conseguiram, porque é que nós não? Não me venham dizer que ainda estamos na ressaca dos anos em que Salazar esteve à frente do país. Esse trauma mental já devia estar mais que superado. Foi à pouco tempo que se deu o 25 de Abril, foi à 39 anos. Ter essa desculpa é uma falta de respeito por quem lutou pela nossa liberdade. Devíamos ser um país e não um monte de cidades, que vivem independentes de si, e que são regidas por Governos que mudam de 4 em 4 anos e que destroiem tudo o que foi feito até lá sempre que sobem ao poder. Nós não somos arma de arremesso. Não se rege um país com guerras políticas que não servem o bem geral. É falta de respeito.

No filme V for Vendetta, há uma frase e um discurso que recordo frequentemente:


"People should not be afraid of their governments. Governments should be afraid of their people."


"Good evening, London. Allow me first to apologize for this interruption. I do, like many of you, appreciate the comforts of every day routine- the security of the familiar, the tranquility of repetition. I enjoy them as much as any bloke. But in the spirit of commemoration, thereby those important events of the past usually associated with someone's death or the end of some awful bloody struggle, a celebration of a nice holiday, I thought we could mark this November the 5th, a day that is sadly no longer remembered, by taking some time out of our daily lives to sit down and have a little chat. There are of course those who do not want us to speak. I suspect even now, orders are being shouted into telephones, and men with guns will soon be on their way. Why? Because while the truncheon may be used in lieu of conversation, words will always retain their power. Words offer the means to meaning, and for those who will listen, the enunciation of truth. And the truth is, there is something terribly wrong with this country, isn't there? Cruelty and injustice, intolerance and oppression. And where once you had the freedom to object, to think and speak as you saw fit, you now have censors and systems of surveillance coercing your conformity and soliciting your submission. How did this happen? Who's to blame? Well certainly there are those more responsible than others, and they will be held accountable, but again truth be told, if you're looking for the guilty, you need only look into a mirror. I know why you did it. I know you were afraid. Who wouldn't be? War, terror, disease. There were a myriad of problems which conspired to corrupt your reason and rob you of your common sense. Fear got the best of you, and in your panic you turned to the now high chancellor, Adam Sutler. He promised you order, he promised you peace, and all he demanded in return was your silent, obedient consent. Last night I sought to end that silence. Last night I destroyed the Old Bailey, to remind this country of what it has forgotten. More than four hundred years ago a great citizen wished to embed the fifth of November forever in our memory. His hope was to remind the world that fairness, justice, and freedom are more than words, they are perspectives. So if you've seen nothing, if the crimes of this government remain unknown to you then I would suggest you allow the fifth of November to pass unmarked. But if you see what I see, if you feel as I feel, and if you would seek as I seek, then I ask you to stand beside me one year from tonight, outside the gates of Parliament, and together we shall give them a fifth of November that shall never, ever be forgot."


Pensem bem nestas frases. Simplificam o nosso racíocionio em relação à sociedade. Devemos manter-nos debaixo deste mando de ingratidão? Ou devemos provar que merecemos algo mais do que aquilo que temos? Temos liberdade é verdade. Mas de que nos vale a liberdade, se não a podemos aproveitar ao máximo? Posso ser livre mas morrer porque a ambulância não chegou a tempo de me socorrer é algo que nas mentes de cada um de nós devia ser um pensamento diário.

Não devemos viver sobre as regras que nos são impostas pelos governos que NÓS elegemos, devemos desafiar-nos a combater estes príncipios. Eles só lá estão porque nós os escolhemos e lhes demos a nossa confiança. Se por alguma razão nos sentimos traídos então devemos demonstrá-lo sem medo. Eles, sem nós, não são nada. Nós, sem eles, continuamos a ser homens e mulheres que querem viver nas melhores condições possíveis.

No fundo, cada vez mais acredito que devemos olhar para o espelho sempre que acordamos e pensar: " Quem somos nós? ".

O Poder está na nossa mão. Somos nós que decidimos o que vamos fazer com ele.



"Quer eu queira quer nao queira

esta cidade...ha-de ser uma fronteira

e verdade

cada vez menos

cada vez menos

verdadeira

quer eu queira quer nao queira

no meio desta liberdade

filhos da puta sem razao e sem sentido

no meio da rua

nua crua e bruta

eu luto sempre do outro lado da luta

a policia ja tem meu nome

minha foto ta no ficheiro

porque eu nao me rendo

porque eu nao me rendo nem por ninguem nem por dinheiro

e como sou e quero ser sempre assim

um rio que corre sem principio nem fim

o poder podre dos homens normais

esta a tentar dar cabo d mim

cabo de mim."


Xutos e Pontapés

1 Ah e tal...:

diariodebordo disse...

A semana passada tive uma aula de argumentação com esse mesmo discurso do "V for Vendetta"...

LOL

Bjinhos*