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13 de abril de 2008

Todos os sonhos deviam ser assim.



"Bem vindos ao meu sonho."

Foi com esta frase que David Fonseca resumiu o concerto que deu ontem no Coliseu dos Recreios.
Algo ímpar, diferente, irreverente, cómico, intimista, fantástico. São alguns os adjectivos que descrevem o que se viu e ouviu ontem. Não é fácil de descrever tudo o que se passou. Simplesmente, porque acredito que palavras não são suficientes. Tudo o que se passou ontem, acredito piamente que foi único para um artista português.

Já se sabia que o David Fonseca, quer gostemos quer não, é o nosso maior entertainer a nível musical. É músico, é intérprete, é realista, é sonhador. Cada música que ouvimos em cd dá-nos a entender isso. Mas ninguém esperava que o concerto de ontem fosse ao nível que foi.
Tudo começa com um pequeno filme. Fala-se de motivações e caminhos. Quase como se fosse o ínicio de uma peça.
Peça essa que começa com 4 mariachis a tocarem perante um Coliseu apinhado. De repente... O pano cai e ouvem-se os acordes de "4th Chance", com a banda ( Ricardo Fiel na guitarra, Paulo Pereira nos sintetizadores, Rita RedShoes no piano, Sérgio Nascimento na bateria e Nuno Simões no baixo ). A plateia está ao rubro.
Ao longo de duas horas e meias, ouvem-se as músicas que marcam a personagem que é o David. Nada fica de fora.
A par disto, temos o efeito cénico que transforma o concerto em algo mais onírico, que não está ao alcance de todos. O palco rotativo em "Silent Void", ou a lanterna em "Song to the Sire / Who are You?", ou o inesquecível "This Raging Light" em que surge uma dezena de bolas disco em cima do palco e dancarinos em trajes dos anos 80 dançavam como se estivessem numa discoteca. Por baixo, ouvia-se o "Hung Up" de Madonna.

Nada fez antever a loucura generalizado que se viu quando o David começa a falar ao telefone ( previamente colocado ) e de repente surgem os acordes de " Video Killed the Radio Star" dos Buggles misturado com "the 80's". É o pagode total visto por um óculos vermelhos à Woody Allen.
É ainda de referir a parte cómica do concerto, onde não faltaram momentos de agente secreto, medleys de música pop como "Umbrella" ou "Toxic", ou ainda a explicação simples mas directa da impossibilidade de satisfazer um elemento masculino da plateia quando este pede para lhe fazer um filho.
Os dois pontos altos, se é que são apenas estes dois, surgem já no fim. Já no encore, a entrada em palco deitado numa cama e com o pijama vestido, pronto para tocar " Dreams in Colour" enquanto bolhas de sabão caiem do ar.
Quando David adormece, é altura de sonhar. Sair da cama vestido como napoleão enquanto a banda aparecia vestidos como pato Donald, cantora de cabaret, motociclista, tirolês e centurião romano. O fim é cantado em uníssono para "Together in Electric Dreams / A Little Respect" enquanto caiem corações vermelhos de papel.
Se todos os sonhos fossem assim, quero adormecer mais cedo.
Foi, e vai ser, tenho quase a certeza, o melhor concerto de um artista português em 2008.


ALINHAMENTO

1. 4th Chance
2. Our Hearts Will Beat As One
3. Song To The Siren (Tim Buckley)
4. Who Are U
5. Superstars II
6. Silent Void
7. Kiss Me, Oh Kiss Me (antecedida de «Still Loving You, dos Scorpions)
8. Someone Who Cannot Love
9. Hold Still
10. Rocket Man
11. Orange Tree (inédito)
12. I See The World Through You (antecedido de «Space Oddity», de David Bowie)
13. «This Raging Light»
14. «The 80's» / «Video Killed The Radio Star (Buggles)
15. Adeus, Não Afastes Os Teus Olhos dos Meus
16. Wannabe + Toxic + Maneater + Can't Get You Out of My Head + Umbrella
17. Angel Song (Silence 4)
18. All Day and All of the Night (The Kinks)
19. Dreams In Colour
20. Together In Electric Dreams (Philip Oakey) + «A Little Respect» (versão dos Silence 4 para original dos Erasure

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