Ontem vi pela primeira vez o documentário sobre as gravações do último cd dos Metallica, "St. Anger", gravado entre 2001 e 2003. Ou melhor, tirado a ferros nesses dois anos.
Antes de mais, tenho de dizer que para qualquer fã ou não fã, é uma peça cinematográfica que deve ser vista já que demonstra a verdade nua e crua por detrás de uma das, senão a banda que mais sucesso tem tido na àrea do heavy metal.
Claramente, este documentário vai trazer ao de cima opiniões diferentes. Por um lado, vamos confirmar as nossas suspeitas de uma relação amor \ ódio entre Hetfield e Ulrich que chega a destruir a banda com os egos bem lá em cima, a presença apaziguadora de Hammett que serve de "bonzinho" da história mas do qual se nota um cansaço evidente de aturar duas bestas. Por outro lado, a perspectiva de que os Metallica são uma banda que faz música pelo seu valor artístico como se notava à distância em cds como "Ride the Lightning" ou "Kill'Em All", provavelmente vai quebrar-se em mil pedaços. As coisas não são como antigamente. há uma necessidade de ter dinheiro e poder. O facto de se terem oposto ao Napster levou muitos fãs a questionarem a sua perspectiva desta banda. Afinal não era pela música que eles se deviam reger? Pode ser uma visão que muitos fãs não estão à espera de ver, de uma banda que com 20 e alguns anos de carreira ainda conseguem levar 70 mil pessoas a um estádio para ouvir músicas com a mesma idade que eu.
Eu fiquei surpreendido com um pouco de tudo.
Sempre soube que ambos eram as pernas da banda. Que eram as vozes criadores da banda. Que existia um conflito antigo. Mas nunca pensei na intensidade da situação. São duas pessoas que se conhecem à mais de 20 anos e que não sabem nada uma da outra. Hetfield assume-se como um "control freak" que quer impor a sua capacidade de decisão em todas as questões a tomar, mesmo que não esteja lá, obrigando o resto da banda a aguardar pela sua decisão (evidente quando volta da reabilitação e estabelece regras de que as 16h se pára de trabalhar e que mesmo que a banda fique no estúdio, nada deve ser decidido). É incrível quando dá liberdade aos elementos restantes de participarem no processo de escrita das canções. Claro que tem de haver algo em troca. A reclamação constante com Ulrich sobre as batidas da bateria que considera "absurdas", os solos de guitarra que faz e que depois dá a Hammett, como se ele não fosse capaz de os fazer. O seu ego parte-se quando é confrontado por Ulrich e quando este se passa da cabeça por ouvir as suas opinões em tudo. Claro está que demorou quase um ano a organizar o ego, em grande parte, graças à reabilitação que fez (provavelmente das melhores decisões da sua vida). Pena não ter dado indicação aos seus amigos e companheiros de banda.
Por sua vez Ulrich é um gajo completamente irritante, arrogante, não influenciável, mas ouvinte.
Ele pensa no bem da banda pondo de parte o individualismo. Cai é no erro de combater o individualismo de Hetfield com o seu e não com o conjunto da banda. São várias as partes em que se percebe que Ulrich tem quase mais "poder" dentro da banda do que qualquer elemento, como por exemplo, quando diz a Hemmett que ele deve deixar de fazer solos ou ele é que coordena parte da produção do album. É um tipo com tendência para complicar as coisas e definir caminhos que nem sempre são os mais certos. Não deixa de falar caso ache que tem razão e sempre com um toom irritante, como se estivesse a dizer aquilo só para nos picar e foder o juízo. Agora, também é verdade que ele tem uma preocupação genuína com a banda. É sem dúvida um dos pilares fundamentais dos Metallica. É ele que demonstra uma maior preocupação em resolver os problemas da banda, mantendo-a "up to date" como a maior banda rock do mundo. Esta visão é notória quando, após um concerto da nova banda de Jason Newstand - Echobrain, ele diz "Jason is the future, Metallica is the past", demonstrando o desespero de ver a sua banda partir-se por completo. Claro que é ele que tem de ter a atitude mais agressiva no documentário em dizer cara a cara de Hetfield " Fuucccccckkk!" após mais uma acesa discussão sobre a direcção da banda. A cena foi cortada e editada porque na verdade ele diz mais que uma vez a mesma coisa e fala-se de que tenha havido vias de facto. Ter um gajo a gritar "Fuck" na nossa cara é puxado.
Uma outra situação engraçada e reveladora é quando Ulrich diz que Hetfield só uma vez lhe disse " I love" (como amigo claro) após 42 cervejas. Isto demonstra a relação que têm e que sempre terão.
É o tipo que não reclama. É o tipo que sabe perfeitamente o seu papel e que não quer ser mais do que aquilo, um guitarrista que toca com os amigos. Serve como homem do meio nas constantes discussões das duas bestas. Provavelmente faz bem. Mas se calhar faz mal. É membro integrante da banda, logo também deve ser corajoso o suficiente para confrontar os outros e impor a sua vontade. Fiquei com a sensação de que é aquele que se importará menos se e quando a banda se separar. Não há muito mais a dizer.
É retratado como o "vilão" da história. O tipo que abandonou os Metallica para se dedicar a uma banda ranhosa. Era bonito que a história fosse essa, mas não é. Das poucas vezes que fala, é talvez o tipo que tem as posições mais correctas em relação a situação dos Metallica. Assume como ridícula e fraca a questão da maior banda de heavy metal ter de contratar um psicólogo para ajudar a resolver os problemas, que entre amigos de 20 anos já não deviam existir.
A sua saída da banda também é perfeitamente justificável e compreensível. Após 14 anos de presença inegável, ainda ter de levar com os egos de Hetfield e com as suas decisões não suportadas por todas, levaram o homem ao limite. Juntem-lhe a imagem de Cliff Burton ( que será sempre o baixista dos Metallica) e têm uma pequena perspectiva de um música que não só não se sente integrada a 100 % mas que também quer ter o seu escape dos Metallica e não pode ter só porque os outros não querem. Ulrich tem pintura, Hetfield tinha os copos e drogas, Hemmett tinha o seu rancho. Porque é que Newstand não podia ter outro projecto paralelo? Não é de admirar que ele se tenha passado e mandado tudo à merda. O que mais irrita os outros é que ele sente-se bem com a sua situação.
A personagem mais assustadora do documentário. Um tipo que anda 2 anos atrás dos Metallica e que serve de canal de comunicação entre os elementos da banda. É completamente fora do normal ter um tipo a quem se paga 40.000$ por mês a servir como mediador de conversas entre pessoas que se conhecem à anos. Não entendo como é que o Hetfield o refere muitas vezes como "um pai que nunca tive" quando no fim o querem despachar e o gajo simplesmente não quer ir porque ainda à situações para resolver. Nem mesmo quando o Ulrich lhe diz que ele tem de respeitar quem lhe paga. Fica para a história um gajo com ar de nerd de 60\70 anos a abanar a cabeça enquanto ouve "Frantic".
A modos de conclusão, acho que este é um bom documentário a nível de análise de uma das maiores bandas do mundo, Contudo, pode ser uma faca de dois gumes para eles pois ao exporem-se desta maneira, não acredito que tenham ajudado a redimir a imagem negativa que criaram com a oposição ao Napster e ao sucesso relativo dos últimos cds. Fica para a história da música o "interior" do monstro que são os Metallica.
0 Ah e tal...:
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