O dia de ontem não trouxe nenhuma novidade ao país. Aconteceu o que era esperado, o Governo demitiu-se porque o 4º PEC não foi aprovado na Assembleia da República. Depois das 20h, o ex-PM José Sócrates dirigiu-se ao país admitindo a sua demissão e a sua tristeza por ver que as suas tentativas de impedir que o FMI entrasse em Portugal, saíram frustradas.
Penso que era pensamento comum que a sua saída era necessária para que os portugueses pudessem voltar a olhar para a política, e para o PS, com novos olhos. O problema é que o timing da situação é incrivelmente errado. Antes de uma cimeira europeia, ficamos sem Governo, ou seja, não temos ninguém a defender-nos perante uma iminente "invasão" do FMI. De tanta coisa que José Sócrates fez e disse, algumas deviam ter sido levadas a sério: agir agressivamente para evitar uma situação económica muito negativa é obrigatório. Podia era tê-lo feito e dito de outra maneira. O problema que os portugueses têm com Sócrates não é inteiramente com as suas políticas. Acredito piamente que o descontentamento advém do modo como foram comunicadas as decisões políticas, de um modo arrogante, crítico, seco que moldou a imagem de um político teimoso e agressivo que não precisa de se justificar nem mesmo às pessoas que o elegeram. Aqui, reside o grande problema de Sócrates.
Este pensamento surge-me num momento que ouço pessoas na rua dizerem: "O PS é o Sócrates.". Esta ideia confirma que a personalidade de Sócrates entranhou-se nas suas políticas, retirando legitimidade e compreensão por parte do povo. Erro fatal. As pessoas passaram a odiar pessoalmente o homem, o político, o ser humano.
Agora, com a queda do Governo, temos outra questão: O PSD irá alterar as políticas que o PS queria fazer? Não, não vai. Não vai porque não existe outra solução senão continuarmos com as medidas de austeridade de modo a reduzir o défice e controlar a receita/despesa do Estado.
Como será que vão dizer aos portugueses que vão continuar com as mesmas políticas depois de tanto pregaram contra as mesmas? Vai depender da personalidade de Pedro Passos Coelho. O seu ar blazé, inexperiente tem de se alterar para um político decidido porque é aí que vai encontrar coro nas pessoas. Tem de tomar decisões difíceis e assumi-las perante o país, sem ser agressivo como Sócrates nem panhonhas como é neste momento. Se ele tem capacidade para isso? Duvido.
Quem fica a ganhar no meio de tudo isto é o CDS-PP. Qualquer cenário é win-win situation.
Caso o país vá para eleições, o PSD não consegue maioria absoluta logo terá de se associar a um partido para conseguir governar com estabilidade. A primeira, e para já única escolha, é o CDS. Acredito que será o partido que terá mais votos, entre eles, o PCP e o BE, podendo ser o peso final na balança de quem governa este país. O Paulo Portas continua a demonstrar que sabe mexer-se muito bem nos meandros políticos. Pelo contrário, o PCP e o BE passaram a imagem de meninos embirrentos que simplesmente são do contra, sem apresentaram qualquer tipo de ideia ou intervenção útil para o país perdendo assim uma oportunidade de ouro de chegaram um dia ao Governo.
No meio disto tudo, pergunto-me o que é o Cavaco anda a fazer.
Se foi para isto que Portugal o elegeu, mais valia terem eleito o Salvador, o tipo paralítico. Esse ao menos tem uma desculpa para não se mexer.