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28 de janeiro de 2010

Evolution Of The Species is Something Really Special.


Ontem tive a oportunidade de ver o documentário "The Cove" sobre o assassínio de milhares de golfinhos no Japão, na baía de Taiji.

Trata-se do melhor documentário a aparecer no cinema nos últimos dois anos, não há dúvidas disso.

O objectivo é simples mas ao mesmo tempo altamente polémico: denunciar a carnificina que decorre entre os meses de Setembro e Março, na baía de Taiji, Japão, onde milhares de golfinhos são capturados e enviados para centenas de aquários por todo o mundo. Os que não são capturados, sofrem um fim bem mais sangrento. São arrastados para uma zona escondida onde são mortos com lanças, facas, esquartejados até o mar ficar vermelho.

Uma equipa liderada por Ric O'Barry, o antigo treinador de Flipper, consegue imagens impressionantes através de camâras escondidas colocadas estrategicamente ao mesmo tempo que evadem perseguições policiais e o embate com os pescadores da zona que fazem de tudo para os provocar filmando cada momento à espera de uma agressão. É de levar às lágrimas quando se vê um golfinho bébé a tentar fugir dos assassinos enquanto sangra e vem à tona para respirar por três vezes até desaparecer enquanto se ouvem risos dos pescadores.

Para contextualizar, esta história começa com a série "Flipper", uma das mais lucrativas séries de sempre onde um golfinho era a personagem principal. Foi o início de uma indústria que hoje rende biliões de dólares. Ric foi o tratador dos cinco golfinhos que participavam na série e quando morre Cathy, a fêmea principal da série, a sua visão sobre o captiveiro deste animais muda e ao fim de 10 anos a montar uma indústria, passa os 35 anos seguintes a tentar destruí-la. Ao longo deste anos, torna-se um nome de referência na protecção destes mamíferos tendo percorrido o mundo a libertar golfinhos e por causa disso a ser preso e visto como um alvo para as indústrias que vivem do comércio de golfinhos. A sua causa é justa. Conseguimo-nos aperceber disso ao longo do documentário. A tristeza nos seus olhos revela um peso na consciência que dificilmente irá conseguir retirar.

Este documentário consegue dar uma visão ampla de todo o problema, procurando entender as causas e as consequências deste desastre ambiental porque não são apenas os golfinhos que sofrem, os seres humanos também são afectados. Com a Revolução Industrial, os níveis de mercúrio no mar têm aumentado exponencialmente e os mamíferos tornam-se "caixotes de mercúrio" que são ingeridos por nós, humanos, e claro, provocam-nos graves doenças. Juntando a estes problemas, apercebemo-nos que a política tem a sua cota parte na continuação do drama. O Japão é um dos únicos países que ainda defende a caça de cetáceos em prol de benefícios económicos e de sobrevivência das espécies mais pequenas de peixe, porque como refere a delegação japonesa na International Whaling Commission, os cetáceos como as baleias e os golfinhos estão a "comer" demasiado peixe. Sim, um dos argumentos é que este mamíferos comem demasiado peixe portanto devem ser caçados.

Os seres humanos conseguem ser realmente estúpidos.

O trabalho desenvolvido pela equipa de Ric O'Barry vai ao fundo das questões expondo a hipocrisia e a corrupção dos países envolvidos neste desastre ambiental, focando-se no Japão e na tentativa de "afastar olhos curiosos" do drama que os animais vivem.
É um trabalho extremamente bem desenvolvido, capaz de emocionar qualquer um forçando-nos a tomar uma posição perante o que se passa.

Vale bem a pena ver.

Para quem quiser espreitar o documentário, pode dar um salto a este site:

Quem quiser tomar uma posição pode fazê-lo através dos sites do filme:


Finally Good News.



" Hi Everyone!
We have exciting news for you this morning. We are very pleased to announce the first tour dates in support of our new album in April, May and June.


The as of yet untitled follow-up to Boxer will be released worldwide in May on 4AD (specific date TBA). The shows begin at the Big Ears festival in Knoxville, Tennessee on March 28th followed in April by two special shows April 22nd and 23rd at the National in Richmond, VA. We will then play Royal Albert Hall in London on May 6th, Le Zenith in Paris with PAVEMENT on May 7, and Astra in Berlin on May 9 before starting a North American tour in Los Angeles at the Wiltern on May 22nd. Ramona Falls will be opening our US shows on the west coast.

There are limited pre-sales starting tomorrow morning and we encourage mailing list members to get tickets early.

The US pre-sales begin at 10am local time on Tuesday, Jan. 26 and run through 10pm Thursday, Jan. 28. The London & Berlin pre-sales start at 10 am local time on Wednesday Jan. 27 and run through 10 pm Thursday, Jan. 28.

The password for all of the pre-sales is BloodBuzz.
We will announce support acts for the tour and have more specific news about the new album in the coming weeks. All dates are listed below.
See you soon …"


Retirado do site dos The National

26 de janeiro de 2010

And What Else?


The Good Old Days

Ontem revi-os a todos. E foi um orgulho imenso.

(Eusébio)



(Shéu)


(Rui Costa)

(Schwarz)

(Toni)

(Valdo)


(Karel Poborsky)

(Rui Águas)

(Pietra)

(Paulo Madeira)

(Vítor Paneira)

(Néné)

(Mozer)

(Magnusson)

(Chalana)

(Abel Xavier)


(Neno)


(Veloso)

(Abel Silva)

(Hélder)


(Humberto Coelho)

(Dimas)

25 de janeiro de 2010

They All Come From Down Under.

Eles vêm da Austrália. São os The Temper Trap.
E juntamente com o The Maccabees, são as minhas duas bandas a ter em atenção para este ano.
Sem contar que "Sweet Disposition" é um single do camandro. Assenta que nem luva em "500 Days of Summer".

Aqui fica o mini-show que deram para o Interface, as sessões da Spinner.









NewsFlash

  • Guitarrista dos Bloc Party, Russel Lissack, com novo projecto musical - Pin Me Down

Enquanto os Bloc Party fazem uma pausa por tempo indeterminada, os seus membros começam a explorar novos projectos. Kele Okereke já está a trabalhar no seu álbum. Agora é a vez de Russel Lissack. O guitarrista juntou-se à cantora Milena Mepri no projecto "Pin Me Down" que começa a dar cartas com o single "Cryptic".

  • Ed O'Brien dos Radiohead fala do estado da indústria musical.

Em entrevista ao site Midem, o guitarrista de uma das bandas mais inteligentes no que toca à adaptação das novas tecnologias à indústria musical, fala da necessidade das editoras se adaptarem a novos modelos de mercado que são utilizados pelas bandas e pelos ouvintes. Refere que a pirataria não está a destruir o mercado, mas sim a transformá-lo. A 1ª parte da entrevista está aqui. A 2ª pode ser ouvida neste link.

  • Primeiro avanço para "Scratch My Back" de Peter Gabriel.

O ex-vocalista dos Genesis está prestes a lançar um novo álbum, não de originais mas de "troca de conhecimento" entre artistas. Com covers de Bon Iver, Arcade Fire, Talking Heads ou Elbow, o álbum tem a orquestração e produção a cargo de Bob Ezrin e John Metcalfe e será de certeza um álbum a ouvir com atenção tendo em conta a qualidade musical de Peter Gabriel. O primeiro avanço é "My Body is a Cage" dos Arcade Fire. Pode ser ouvido neste link.

  • Jónsi Birgisson, vocalista dos Sigur Rós, dá a conhecer o primeiro single do seu projecto a solo.

Num programa da rádio WNYC, o vocalista dos Sigur Rós, mostrou avanços do seu futuro álbum a solo acompanhado por uma guitarra e percurssão. O link está aqui. Entretanto se quiserem ir acompanhado o processo de criação do álbum podem dar uma vista de olhos aos vídeos que o músico vai postando no Vimeo.

22 de janeiro de 2010

Shopping Spree!

Descobri o potencial da Amazon e agora não quero mais nada.

Masters Of The Universe.



Tão foooooooorte.

21 de janeiro de 2010

So Wrong.

"Estava excepcionalmente Jedi."

I Can Feel It Coming In The Air Tonight.

Notícia do dia:

Sá Pinto confunde Liedson com Artur Jorge e, de volta ao revivalismo, termina a sua carreira de director desportivo com um punch.
Sá Pinto referiu que "Sempre fui atrasado mental. Ia lá mudar agora."
Liedson, por sua vez, ainda está colado à parede do balneário do Sporting tal foi a força do soco. Os colegas prometem não voltar a chamá-lo de Levezinho.

Retro Is Back To Stay.

O duo She & Him, composto por M.Ward e Zooey Deschanel vai lançar o segundo trabalho, intitulado "Volume Two" depois de em 2008 terem lançado "Volume One". M.Ward é conhecido pelo seu excelente trabalho como compositor e produtor e Zooey, bem, pela sua cara laroca com aqueles olhos azuis e pelo seu trabalho como actriz em filmes como "500 Days Of Summer".

Assim se confirma que existem actrizes que sabem cantar. E são giras.

She & Him: Volume Two

01 Thieves
02 In The Sun
03 Don't Look Back
04 Ridin' In My Car
05 Lingering Still
06 Me And You
07 Gonna Get Along With You Now
08 Home
09 I'm Gonna Make It Better
10 Sing
11 Over It Over Again
12 Brand New Shoes
13 If You Can't Sleep

You Can't Handle The Truth.



Salada de frutas. Doces. Rebuçados.
Como quem diz, vais ser diabético.
Mas não vais para a prisão.
Isso é que não.

20 de janeiro de 2010

What Else Can They Do?

É oficial.
O Haiti é um erro geográfico que deve ser eliminado.
Mais um sismo de 6.1 na escala de Richter diz-me que está na hora de evacuaram todos os vivos para outra ilha.

It's a New Look On The Trilogy.









Mummy... Please!!!

Razões mais do que suficentes para querer ir a Coachella.


Eletronic Beat Lines.

Os Delphic finalmente lançaram o seu primeiro àlbum "Acolyte".

Depois de um pulo em Portugal no Alive do ano passado, onde deram a conhecer ao público português temas como "Counterpoint" e "This Momentary", a banda de Manchester está agora na berra como um dos nomes a ter em conta para este início de ano.

"Doubt" foi o primeiro single. Segue-se "Halcyon".



19 de janeiro de 2010

My Face On a T-Shirt.




Os Golden Globes não teriam sido a mesma coisa sem Ricky Gervais. O senhor britânico conseguiu pôr toda a gente alerta com as suas piadas e transformou a entrega de prémios num espectáculo de stand-up comedy. Obviamente que não vai voltar a faze-lo porque nunca mais o vão convidar para apresentar o que quer que seja. Mas, who cares? Ele é britânico.

Not Easy Stuff.

Ainda sobre política e o Dia das Mentiras...

1 - Manuel Alegre está disponível para ser candidato à Presidência da República.
2 - O Bloco de Esquerda apoia Manuel Alegre.
3 - Cavaco Silva está nem aí.
4 - Cavaco Silva condecora Santana Lopes por serviços prestados ao País.

Vamos lá a guardar algumas mentiras para dia 1 de Abril, caros comediantes.

April's Fool.

(Legenda)

The Guy who sucked everyone.
The Guy we hope doesn't suck.
The Guy who got sucked.

18 de janeiro de 2010

I'm With COCO.

Antes que estreie o "Clash of The Titans", já está no ar uma prequela do filme intitulada: "Clash of The Hosts" com Jay Leno e Conan O'Brien nos papéis principais.
Ora é claro que Jay Leno leva a melhor dando um valente pontapé no rabiosque do Conan.
Contudo, é sempre bom saber que há malta que tem o mesmo emprego (exactamente o mesmo) e que nos apoia.





She Says That a Lot (True Statement).


Friends Take Turns and Paint Their Roads. We'll Meet In The End. Trust Me on That, D.





Poetry in Motion.

Hum... Hãããã...Ooooooh...Tenho que concluir que nããããããããããã.

Playtime Is Just Beggining.

Quando é que podemos começar a fazer piadas sobre o Haiti? É que já tenho algumas em mente e não quero ser agredido tão cedo neste ano.

11 de janeiro de 2010

Pffffff.....

Quem fez isto vai tão parar ao Inferno.


As If It Was Sent By God Himself.

Just keep in mind, we're ruling the world one 11 at the time.

Welcome Home.



Ainda à pouco tempo dizia eu que não sentia vontade de comprar ténis novamente porque não via nada de jeito.
Hoje apago essa frase da minha mente.

He Knows Who He Is.

WoooW.

Isto é o que eu chamo de conduzir.

Rules Are Made By The Devil.



E é por isso que somos tão mais simples que as mulheres.

Crowded Rooms.


So Much To Say, And So Much To See.









8 de janeiro de 2010

World in A Cuckoo Line.

Antes do novo álbum estar disponível, os Vampire Weekend disponibilizam uma pré-audição no seu site: Vampire Weekend

Why Me? That's What Bothers Me.

Há certas coisas neste mundo que assustam o Ser Humano. Há sim. Medo de morrer, de não compreender o sentido da vida, ficar paralizado. E ver a Clara Pinto Correia a ter orgasmos. Não porque ter orgasmos seja feio mas porque a Clara Pinto Correia é realmente feia.

"Sexpressions" é uma exposição de fotografias da cientista e escritora, tiradas pelo seu marido, enquanta alcançava o maior prazer sexual, o orgasmo. A ideia até que é original (pelo menos neste país) e expõe com clareza a intimidade feminina durante um momento precioso para todos nós. O problema é unica e exclusivamente... a Clara Pinto Correia. Fotografar uma mulher feia durante um acto sexual é como engatar uma tipa num bar, levá-la para casa, ir para cama com ela e no dia seguinte, olhar para ela e dizer mentalmente "FODA-SE!Já sei que vou ter herpes!". Não é algo que desejamos caros leitores (nem mesmo os mais necessitados).

Como tal, digo desde já que o link que irei disponibilizar mais à frente pode ter efeitos nefastos na vossa vida sexual tal é o poder das imagens. Tentem ao máximo não associar a cara da Clara Pinto Correia à cara da vossa esposa/namorada/amiga das voltas quando ela atingir aquele ponto chave. Podem vomitar e depois o cheiro não sai dos lençois.

Entretanto, deixo-vos o texto que acompanha esta exposição, escrito pela autora, com especial destaque para a palavra "bolota". Explica muita coisa.

"GLÓRIA"

"Tenho cinquenta anos. Devagarinho, quase sem eu dar por isso, os meus seis filhos foram seguindo as suas vidas, até estarem longe, longe. Já há muito tempo que vivo sozinha com a Bolota, numa casa pequenina no alto da montanha, na orla do bosque que não tem fim e de frente para as ondas do Atlântico que nunca acaba. Passam por aqui muitos amigos, mas a companhia íntima dos homens já me desiludiu que chegue e a das mulheres não me interessa absolutamente nada. Estou em paz.
À noite, gosto de me deitar no escuro com a Bolota, a beber um copo e a fumar em silêncio absoluto. Através da janela aberta, ouço o pio dos mochos e o coaxar das rãs, o cair da chuva e as patas dos cavalos. É bom. Enche-me de energia e faz-me sentir disposta a tudo.
Esta noite, não sei porquê, não conseguia tirar os olhos da janela aberta.
Estava a pensar numa outra noite registada na história, há já três séculos, quando John Adams, que viria a ser o segundo presidente dos Estados Unidos, e Benjamim Franklin, o mais visionário dos Founding Fathers, andavam a fazer campanha pela Revolução Americana e tiveram que partilhar a mesma cama numa hospedaria do caminho.
Olho outra vez para a janela aberta. Há qualquer coisa em mim que se revolve, inquieta, como se, de repente, fosse entrar por ali um mistério enorme. Foi esse mistério que os dois homens sábios discutiram toda a noite no século XVIII, no tal quarto que só tinha uma cama. Exactamente por causa da janela.
John Adams, calvinista devoto, insistia que a janela tinha que ficar fechada, senão morreriam os dois de pneumonia. Benjamin Franklin, deísta entusiasta para quem a Natureza não podia deixar de ser a mais gentil das damas, não parava de bradar que a janela tinha que ficar aberta, para que os zéfiros nocturnos pudessem entrar e encher-lhes o corpo e a mente de energia limpa e renovada.
A janela não parou de abrir e de fechar até ao romper da aurora.
Calvinistas! A sério, eu, que gosto de respeitar todas as fés, não consigo entendê-los. Claro que a Natureza só pode ser a mais gentil das damas, mesmo nas suas manifestações mais portentosas e destrutivas. Compete-lhe esculpir o planeta e continuar a fazer girar a grande roda. E enviar-nos todas as noites os zéfiros que nos renovam, como estes que entram agora pelo meu quarto, e que, e de repente, me arrepiam.
Passou-me pela cara um vento morno, carregado de aromas agrestes da floresta, que me brincou nos cabelos, se enroscou neles como uma cobra, e não se foi embora.
Está a acontecer qualquer coisa que não é normal.
Entrou-me no quarto qualquer coisa que veio com o vento. Não consigo vê-la bem, e, curiosamente, não tenho medo nenhum. É uma coisa poderosa e tem que ser boa, porque a Bolota não rosnou nem arrepelou o pêlo. Limitou-se a saltar imediatamente para o chão, como que a dar-lhe o seu lugar ao meu lado. O que quer que seja, já tocou na minha pele de uma forma muito doce. Aqueceu-me logo nesta noite fria. Está a enroscar-se ao meu lado sem qualquer cerimónia. Só pode ser um animal. Um animal muito quente.
Já há muito tempo que conheço o perigo e há muito tempo que me estou nas tintas. O calor do animal aquece-me e anima-me, do fundo da solidão onde construí o meu sossego. Deixo-me deslizar no seu sentido. Dentro da aura dele, sinto-me, como nunca senti antes, a cair devagar numa banheira de mel. É tudo tão doce e calmo, deste lado da cama onde costuma estar a Bolota. Oiço uma voz que não conheço a pronunciar, calmamente, palavras que eu nunca ouvi. Esta criatura fala. E isto é linguagem articulada. Mas é só quando me abraça toda com infinita doçura - pernas, braços, mãos, cabelos, pescoço, queixo - que me dou plenamente conta do meu erro. Este animal é um homem. Foi um homem que voou pela minha janela, no sopro dos zéfiros nocturnos.
O escuro da noite, com todos os seus luzeiros distantes, sempre foi meu amigo. Este ano Marte tem estado bem à vista, e consigo ver o seu inconfundível brilho vermelho através da janela aberta. Sobretudo, não quero fechar os olhos. Quero absorver tudo o que sei que nunca mais volta a acontecer. A Bolota está a dormir placidamente, e de vez em quando resmoneia nos seus sonhos. Mas isto, dentro da nossa aura, não é um sonho. O homem que veio com o vento é muito grande. Prendeu-me as pernas dentro das suas como se eu fosse um brinquedo sem peso, e está a explorar-me o corpo todo com umas mãos firmes e suaves que parecem do meu tamanho. Continua a falar comigo calmamente, na sua voz de barítono cheia de música longínqua. Eu não sei falar com ele. Limito-me a oferecer-me incondicionalmente e a sorrir. Mesmo sem o ver, sei que ele sorri também.
O homem muito grande está a divertir-se, como se, também ele, já não desfrutasse há muito do corpo despudorado e feliz de uma mulher que gosta do prazer da entrega. Roça-me a língua pelo pescoço, pelos ouvidos, enche-me de arrepios e eu rio. Ele volta a falar, faz-me suar, acaricia-me os cabelos com ternura e depois puxa-mos com toda a força, até me fazer gritar. Quando eu grito, ele ri. E atrai-me para si ainda mais. Depois segura o seu brinquedo contra o torso poderoso que lhe concederam as Forças da Natureza, lentamente, a respirar fundo sobre os meus ombros. É um homem que gosta de brincar. Tem, de facto, muito pouco de humano.
Então, mas isto é um jogo, não é? Porque, se é um jogo, eu também sei jogar. E apetece-me. Deu-me para me sentir estupidamente jovem. Começo a empurrá-lo para trás como se já não quisesse mais carícias, com toda a força que tenho que não é nenhuma contra a dele. Ele prende-me as pernas entre as suas com toda a força, eu tento libertar-me com os joelhos, tento puxar-lhe os cabelos mas ele prende-me as mãos, estamos os dois a rir muito, até a Bolota acorda do fundo do seu sono sem remorsos. Nessa altura, porque ele se distrai, liberto uma mão e acendo a luz da minha cabeceira.
Quando olhei pela primeira vez, achei que tinha visto, ao meu lado, na minha cama, a estátua milenar de um semi-deus grego.
Aqui é onde, de súbito, me sinto com medo da minha própria mente.
Os deistas do século XVIII que queriam as janelas bem abertas acreditavam que da Natureza só lhes poderia vir o Bem. Spinoza dissera, na fórmula mais sucinta e apeladora de todas, Deos sive Natura: Deus ou a Natureza, não há que sofrer mais tormentos teológicos à procura da diferença entre duas entidades que são uma só. John Locke dissera, Os trabalhos da Natureza, por toda a parte, evidenciam suficientemente a existência da Divindade. Eram pessoas extremamente racionais, interessadas em simplificar o mundo espiritual europeu, depois de pelo menos três séculos de carnificinas e torturas sem precedentes da nossa história, todas elas feitas em nome de Deus.
Ou seja. Eu para aqui a construir todo este belo edifício artístico que o corpo e as mãos deste homem me inspiram. E, como acontece tantas vezes, a esquecer-me do lado irracional da existência onde tantas vezes se cristalizam os nossos actos mais profundos. Para os deistas, não havia cá conversas de deuses pagãos, ou de santos postos no seu lugar pela cristianização do Império Romano nos tempos de Constantino. Talvez eu esperasse ver um prodígio natural deitado ao meu lado na cama, não sei, agora que penso nisso - talvez alguma composição fenomenal do Arcimboldo.
E isso, de facto, seria assaz patético.
O que eu não esperava, de certeza, era esta perfeição de linhas, este sorriso de mármore, esta simetria perfeita de traços, esta beleza rigorosa e compulsiva de um Antínuo esquecido debaixo das pedras, ou de um David renascentista num museu. E a flexibilidade quente do corpo da estátua, cada vez mais colado meu. Tudo se contradiz, enquanto o nosso prazer vai subindo imperiosamente de grau no mesmo termómetro de Réaumur que mediu a temperatura do dia do Grande Terramoto de Lisboa. Não há mais perímetros definidos? Ainda bem.
Na glória imensa desta noite sem regras, dou-me ao luxo de fechar finalmente os olhos de puro gozo quando o homem mágico me cobre e de uma vez por todas me enche de si, pujante, quente, pleno, feliz de um desejo tão grande como o meu, agora tão silencioso e compenetrado como eu estou. Deixo-me levar nesta onda magnífica do mesmo mar que rebenta na praia com um estrondo que chega à minha janela, e só volto a abrir os olhos muito tempo depois.
O arquétipo clássico desapareceu. Dentro de mim, em cima de mim, a olhar para mim com um olhar que tem tanto de prazer como de surpresa, está um arcanjo guerreiro pré-rafaelita. É como se uma criatura divina que ia combater o Mal num cavalo branco tivesse momentaneamente pousado o arco, e as setas, e as flechas, e até talvez a espada. Tudo porque cedeu a uma tentação incontrolável, cem por cento extra-programa, que está agora a falar-lhe aos sentidos de uma forma que até então lhe era desconhecida, e que se revela imensamente gratificante.
Meu Deus, é tão bonito.
Não consigo tirar os meus olhos humanos dos olhos líquidos dele.
Talvez o Mal ainda possa andar um bom bocado à solta no que resta desta noite.
Não. Bastou um sopro, um passe de capa do vento, e o arcanjo já se foi embora. O Mal que aguente a sua investida, porque na minha cama a parada subiu de tom. Não sei quem me possui desta maneira. Nem sequer sabia que era possível voar tão alto à superfície da Terra. Volto a fechar os olhos, volto a deixar-me levar, sinto o suor deslizar pelos nossos corpos colados, oiço a respiração dele cada vez mais fremente nas narinas, e tudo no seu abraço enorme continua a dizer-me que não tenha medo. Quando abro os olhos, só me ocorre uma palavra -- Bucéfalo.
Há qualquer coisa de inominavelmente grandioso em ser-se a mulher do garanhão negro que acompanhou Alexandre o Grande em todas as suas batalhas. E mais ainda em atingir o clímax com ele, num berro sem fim que sacode a montanha e cala o mar.
É neste pacto secreto que adormecemos em paz, estafados, totalmente emaranhados um no outro.
Levantei-me devagarinho, com a brisa doce e cheia de flores da manhã a brincar suavemente na trepadeira, para ir abrir a porta à Bolota. Sentia-me a cintilar por dentro. A criatura mitológica continuava ali em plena luz do dia.
Olha, querida, trazes-me um café lá de baixo? Se faz favor?
Que é isto?
Virei-me como se tivesse sido mordida por um bicho, com o coração a bater na garganta. Aquilo era um homem. Tinha-se sentado no meio das almofadas com o cabelo todo desgrenhado, e estava a acabar de acender um cigarro com um sorriso rasgado completamente canalha. Mas afinal tu falas?
Só quando vale a pena.
E tens por hábito entrar assim a voar, sem mais nem menos, a meio da noite, pela janela das pessoas?
Assim sem mais nem menos? Era o que faltava. Foi só mesmo porque quis ficar contigo.
Mas, prodígio. Eu tenho cinquenta anos. Quer-me parecer que já há muito tempo que não acredito em milagres, topas.
Eh pá, por pavor, tu poupa-me a conversa mole, fedelha. Eu tenho a idade da Terra, e estou farto de não passar de um mero prodígio, e não vejo por que é que, entre nós os dois, não há-de acontecer mesmo um milagre. Sinceramente. Ando há milénios para aí a fazer nascer Grandes Imperadores, Grandes Guerreiros, Grandes Navegadores, Grandes Artistas, Grandes Cientistas...
Livra. Só és capaz de engendrar homens?Também fui o pai da Joana d'Arc.
Uma maluca mascarada de homem?
Ouve lá. As mães tiveram todo o prazer, os filhos tiveram todas as dores de cabeça e todas as facadas no Senado, portanto acho que o jogo é mais que justo para o teu lado, ou sou eu que estou a delirar? E digo-te, o que eu realmente aprendi foi que, em todos os tempos, em todos os sítios, da mãe do Aristóteles à mãe do Obama, toda a gente acredita em milagres, ouviste, e isto digo-te eu, que já vi tudo, em toda a parte. Qual é o nosso milagre? Tu libertas-me da Eternidade, eu liberto-te da solidão... Gaita que és mesmo boa, mulher. Anda cá que eu faço-te já um filho daqueles normais.
Normais? Numa mulher em menopausa?A Bíblia está cheia delas.
Ao menos diz-me o teu nome, palerma.
E o café que eu já pedi há mais de três quinze dias, gaja? Não digo mais nada sem me trazeres o meu café.
Boa. Agora convenceste-me. És mesmo um homem. Vou buscar o café sem mais demora, chefe. E vais ficar por aqui quanto tempo, já agora, só para eu depois ir à mercearia comprar aquelas porcarias todas de que os homens gostam?
Ele espreguiçou-se todo de puro conforto, com o tal sorriso velhaco a ficar cada vez mais doce.
O resto da vida, estrela-do-mar. "

CLARA PINTO CORREIA

7 de janeiro de 2010

Same Old Same Old!!!


Japa Version 01 ('2010)

Shopping Spree.

O ano de 2010 apresenta-se com uma boa montra de concertos em Portugal.


The XX

25 de Maio - Aula Magna


Arctic Monkeys
02 de Fevereiro - Campo Pequeno

Beach House

17 de Março - Lux

La Roux

13 de Março - Lux


Panda Bear

12 de Fevereiro - Lux

MAS...

Essa não é a notícia. Chegam-me rumores de que o Rock in Rio vai receber o senhor que gosta de "Thunder Road", que vai pescar ao "The River", que foi "Born in the USA" e que tem muito de "Human Touch".

The Boss.